Eduardo Ramos
Santa Maria deve passar a contar com um presídio feminino no modelo Apac, em que as detentas terão de trabalhar para manter o espaço e terão um tratamento humanizado, bem diferente do que ocorre nos presídios convencionais. Ontem, durante uma vistoria técnica, o imóvel da antiga Febem, na Rua Carlos Uhr, que será doado pela prefeitura, foi considerado adequado para receber a unidade da recuperação da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac). O engenheiro Roberto Donizetti de Carvalho, responsável técnico pela Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (FBAC), entidade que presta apoio às Apacs em todo o país, veio de Minas Gerais para conhecer o prédio e avaliou que ele poderá sediar uma unidade de recuperação, após uma reforma necessária. Durante a visita, ele elogiou o fato de Santa Maria ter pessoas e autoridades preocupadas em investir numa Apac para garantir um maior índice de recuperação de detentos.
– A Apac tem sido uma revolução no sistema prisional. Nós temos um índice de recuperação de 90%. Nas cidades que têm Apac, a gente tem diminuído a criminalidade, tem diminuído a reincidência. Por isso, estamos muito felizes de estar aqui em Santa Maria e de trazer esse projeto aqui para a cidade. Eu sei que muita gente que está nos ouvindo vai ficar com a pulga atrás da orelha, pois o brasileiro é desconfiado. Mas eu gosto de usar uma frase do Mario Ottoboni (fundador do método Apac). “As coisas só tem significado quando a gente conhece”. Então, é importante que as pessoas conheçam o método da Apac antes de fazer um julgamento. Já estive com várias autoidades que não queriam saber da Apac. Mas depois, a gente foi conversando sobre o que realmente é uma Apac, e as pessoas falavam: “Desse jeito, eu quero para a minha cidade, porque eu sei que a cidade vai se beneficiar, que a comunidade vai se beneficiar, porque aqui os presos vão mudar de vida, vão poder trabalhar, se profissionalizar, acordar todo dia às 6h da manhã, para ir para a escola, para a padaria, para a marcenaria” – afirmou Carvalho, em entrevista ao colega Gilberto Ferreira.
A partir do aval da FBAC, advogados e outros voluntários que integram a Apac Santa Maria vão correr atrás de verbas para bancar a reforma do prédio da antiga Febem. Na semana que vem, deve ocorrer uma reunião com o Ministério Público para tentar verbas de fundos do MP para bancar as obras. Porém, doações de empresas, pessoas e entidades também serão bem-vindas.– Ele (Carvalho) ficou encantado com a estrutura do prédio, pois tem estrutura para mais um piso. Acredita que será possível acomodar mais de 10 detentas – afirmou a advogada Bianca Romero, 1ª secretária da Apac Santa Maria.
A intenção é iniciar a Apac com um número menor de detentas para poder testar e aprimorar o novo modelo. À medida que os resultados aparecerem, a ideia é aumentar o número de vagas. Nas Apacs, os detentos precisam cumprir regras rígidas e têm de voltar ao presídio convencional em caso de descumprimento. Porém, têm mais autonomia e tratamento adequado, pois a estrutura é melhor, parecendo-se com uma casa. Os presos precisam cuidar dos afazeres domésticos, além de estudar e trabalhar. Contam com acompanhamento espiritual, psicológico, jurídico e médico.– O trabalho é muito sério. Parabéns ao pessoal daqui, pois agregar pessoas nessa causa não é fácil. A causa dos presidiários não é fácil. Mas está no coração de Deus e palavra é forte, eu já estive preso e sei disso. Ninguém concorda com o crime, Deus detesta o crime, mas ama a pessoa, o ser humano, e através de nós vai ter a oportunidade de rever os seus defeitos – afirmou Carvalho.
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